Não se deixe o espectador enganar pela capa. “Estranhos de Passagem” tem tanto para oferecer que ela simplesmente não lhe faz justiça (nem esta, nem qualquer uma das restantes que encontrei). Nomeada ao Óscar de Melhor Argumento Original, esta película de Stephen Frears, realizador do respeitável “The Queen”, entrecruza as vidas de Okwe (Chiwetel Ejiofor), Senay (Audrey Tautou), Juan (Sergi López), entre outros, numa viagem pelo submundo londrino.
Okwe é um imigrante ilegal, nigeriano, e médico de profissão... até chegar a Londres onde é taxista durante o dia, e recepcionista do Baltic Hotel à noite. Passando dias praticamente sem dormir, Okwe consegue ainda arranjar tempo para consultar e medicar alguns vizinhos, com a ajuda de Guo Yi, um amigo que trabalha numa morgue e que lhe consegue facultar alguns dos medicamentos necessários.
Ele partilha casa com Senay, uma jovem turca com alguns problemas com a polícia de imigração, e cujo sonho é ir viver para Nova Iorque. Estas vidas e as dos restantes personagens da história acabam ligadas por um estranho acontecimento... O aparecimento de um coração humano numa das casas de banho do hotel...
O assunto abordado é a grande mais valia da película e aquilo que a diferencia dos restantes filmes dentro do género. A ténue linha entre o certo e o errado, o vísivel ou ignorado, joga a favor desta obra de Frears que soube levar a bom porto a sua ideia. Ele, e os actores.
Ejiofor e Tautou revelam uma boa dinâmica, tocando o espectador e permitindo criar uma envolvência com a sua história. As suas cenas estão muitíssimo bem conduzidas e a química é palpável. Boa prestação de ambos. Aliás, arrisco dizer que todas as interpretações se encontram a muito bom nível.
Tráfico de orgãos, imigração ilegal, são temáticas com detalhes minuciosamente tratados e que tornam esta fita num daqueles filmes que não me canso de ver. O seu tom sombrio e a fotografia crua que permite constrastes, não só de espaço, mas também de personagens, visto a faceta multicultural que se nos apresenta, são também um outro ponto significativo.
E verificar que com apenas 10 milhões de dólares se conseguiu elaborar tal projecto, é deveras reconfortante.
Crú, realista, inteligente, coeso e criativo, “Dirty Pretty Things” é isso mesmo, uma série de coisas belas e sujas, amores e crimes, que prendem do príncipio ao fim. Sem ligar a clichês nem a saídas fáceis. Obrigatório.
“We are the people you do not see. We are the ones who drive your cabs. We clean your rooms. And suck your cocks.”
Nota Final: 8 / 10
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