Londres, 16 de Novembro de 2027. A taxa de infertilidade atinge os 90% e a pessoa mais jovem do mundo (com apenas 18 anos de idade), foi assassinada.
Um início arrasador. Contido, seco, frio, povoado por um sentimento de perda generalizado. Quase comparável à morte de uma celebridade mas, neste caso, bem mais que isso. É uma tomada de consciência do envelhecimento de uma sociedade à beira da extinção.
Violentas lutas e um profundo estado de anarquia ditam as leis da rua. Uma rua onde um solitário burocrata revoltado, Theo (Clive Owen), se vê involuntariamente submerso numa missão capaz de impedir a extinção do Homem. A missão de garantir a sobrevivência da última mulher grávida, Kee (Clare-Hope Ashitey).
O realizador mexicano Alfonso Cuarón, responsável pelo 3º capítulo da saga cinematográfica de Harry Potter, recria a atmosfera de “Os Filhos do Homem” como um painel “cinzento”, desprovido de qual magnificência ou fulgor. É amarga, assustadoramente próxima de algumas realidades que já hoje começamos a experiênciar.
Um guião bem estruturado se apresenta perante o olhar do espectador, a quem Clive Owen consegue sempre transmitir um “quê” deveras intrigante a cada um dos seus personagens, e este é manifestamente mais um destes casos. Julianne Moore também se apresenta em boa forma como a revolucionária Julian, assim como o eterno Michael Caine com o seu Jasper, um cartonista político, amigo de Theo.
Uma banda sonora adequada e planos de camara competentes, alguns em estilo documentário que fazem as delícias de qualquer espectador, fazem desta adaptação do livro homónimo de P.D. James, de 1992, uma fita recheada de pormenores e em que nada foi deixado ao acaso. Senão, que dizer do cenário desolador de uma escola abandonada, da luta por preservar alguma identidade cultural que ainda reste, e da composição de um retrato que quase nos retorna à conduta Nazi, que figurará sempre como uma das mais vergonhosas épocas da história humana? São estes pormenores que destacam esta película das demais com sentido apocalíptico, embora o seu guião seja algo previsível em alguns pontos, mas mantendo uma singularidade que o coloca no conjunto de filmes de topo.
De mencionar a sequência final, os ecos.. a sobreposição dos sons das balas sobre os gritos, e um choro... que finda um massacre. Os créditos finais que começam com sons de crianças, embora o final esteja aberto a uma leitura mais vasta do que a do simples “final feliz”. Uma conotação religiosa, com base no milagre que é o nascimento de uma criança, mas também no sacrifício próprio por aquilo que acreditamos ser um bem maior. Tal como a personagem de Owen o fez.
Uma curiosidade ainda a referir, é a existência de um take de 6 minutos de duração, sem cortes de qualquer espécie. Uma pequena proeza da qual Cuarón certamente se orgulha.
Um retirar e atribuir de esperanças que mexe com os nossos ideais, e nos faz pensar no que o futuro cada vez mais próximo nos pode reservar. Uma sobrevivência mergulhada no caos, uma lição e um dos melhores filmes de sempre.
“As the sound of the playgrounds faded, the despair set in. Very odd, what happens in a world without children voices.”
Nota Final: 9 / 10
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