Soberbo. E assim acabo a crítica. Está tudo dito...
Não, mentira. Não posso deixar um filme assim rotular-se com uma simples palavra.
Baseada no romance de Diana Wynne Jones, esta é a história de Sophie, uma adolescente de 18 anos que vê a sua vida mudar por completo quando conhece Howl (Hauru na versão original nipónica), um belo feiticeiro perseguido por forças maléficas controladas pela Bruxa do Nada.
Após observar a proximidade que nasceu entre os dois, a Bruxa, agindo sob o impulso do cíume, transforma a pobre Sophie numa mulher de 90 anos. Esta decide então partir para as terras do Nada, à procura de uma maneira de quebrar o feitiço. E é lá que Sophie se depara com um estranho castelo andante...
O realizador, Hayao Miyazaki, que já nos brindou com o oscarizado “A Viagem de Chihiro” , volta a provar o porquê do fascínio pela sua arte. “Howl's Moving Castle” tem um brilho especial, que confere tudo o que uma película de qualidade pode exigir.
Primeiramente vou referir a banda sonora. O lirismo que o compositor Joe Hisaishi confere aos seus trabalhos tem acompanhado os filmes de Miyazaki, contribuindo amplamente para o envolvimento do espectador com a fita. É quase que um outro mundo aquele para o qual somos transportados tão facilmente com a fusão de imagens e som. Deslumbrante e muito bem conseguido.
De seguida, há que mencionar o guião. Com uma história inteligente e com uma forte mensagem anti-guerra, é fácil ganhar interesse na visualização da fita. Os momentos emocionantes são uma constante, sejam eles de acção ou comoção. E claro, também alguma comédia não foi esquecida (um bem haja, uma vez mais, a todos os envolvidos nas dobragens portuguesas).
Gostei de inúmeros pormenores, nomeadamente a percepção de Sophie sobre a sua condição física enquanto mulher idosa, mas que em nada a impediu de perseguir os seus objectivos. Outro bom pormenor são as diferentes transformações a que o feiticeiro Howl está sujeito, variando de situação para situação. E claro, uma das dúvidas incontornáveis do filme: a constante alteração do aspecto de Sophie. Mas essa, permanecerá sempre em aberto para uma interpretação pessoal do espectador.
A história em si percebe-se bastante bem. Contudo, sensívelmente a meio da fita, é possível um ou outro desnorte, mais pela maneira como nos é contada do que propriamente pelo seu conteúdo. Mas nada que comprometa. A meu ver, ainda conseguiu enriquecer o cariz místico de um clássico que quase de imediato ganhou o estatuto de imperdível.
Um must see mágico, inebriante e criativo.
“That boy is extremely dangerous, his powers are far too great for someone without a heart.”
Nota Final: 10 / 10
Deslumbrante, único, um marco cinematográfico. O realizador James Cameron alcançou mais um feito, desta vez com a história de Jake Sully (Sam Worthington), um ex-marine confinado a uma cadeira de rodas, que foi convocado para uma missão no planeta Pandora.
A missão consiste na procura de um valiosíssimo mineral que é utilizado na Terra como fonte energética, localizando-se precisamente no seio da comunidade Na'vi, os habitantes daquele planeta.
Por forma a ganhar a sua confiança, estudar os seus costumes, e conseguir preciosas informações de como chegar ao mineral, Jake, através de um altamente avançado programa de avatares, vê a sua mente transportada para o corpo de um robusto Na'vi. E é aqui que o conflito interior do jovem tem lugar... Deverá ele lutar ao lado dos da sua raça, ou ao lado daqueles que agora o acolheram?
O filme é um deleite visual para o espectador, e a sua abordagem tridimensional é quase que obrigatória. Desde as paisagens, até às criaturas... Tudo é abordado com um enorme cuidado e bom gosto. Sim, a história é mais que vista, recheada de clichés, e sabemos desde cedo o desfecho provável, mas nem por isso o interesse do filme se vê gorado.
Certo mesmo é que Cameron é um mestre, e os 300 milhões de dólares que tornam “Avatar” no filme mais caro de sempre renderam, e bem! Nunca na vida, e afirmo-o com toda a convicção, vi uma tão perfeita simbiose de imagens reais com o mais refinado CGI. Esqueçam tudo o que viram até agora, e marquem uma nova etapa do cinema a partir do sucessor de “Titanic” no que aos sucessos do realizador diz respeito (já repararam como o senhor marca décadas com cada filme que faz? “Terminator” é mais um exemplo disso mesmo!).
A nível interpretativo, o leque de actores brinda-nos com convincentes performances. Quem me conhece bem sabe que opinião tenho sobre Michelle Rodriguez... Pois agora cabe-me dar o braço a torcer e dizer que, de facto, gostei imenso da sua prestação. A sua personagem, Trudy Chacon, embora com pouco tempo de intervenção, marca pela positiva. Nota de referência ainda para Sigourney Weaver, em boa forma, mas com uma condução do personagem que me confundiu um pouco. Gostaria de ter visto o “mau feitio” da personagem um pouco mais aprofundado, mas esteve a bom nível, assim como Stephen Lang, o implacável coronel Miles Quaritch. Com uma condição física invejável, Lang revelou-se o vilão perfeito, com tiradas que denotam bem o cariz político que Cameron tentou induzir na película.
Por fim, de frisar que “Avatar” é apontado como o novo salvador da indústria cinematográfica de Hollywood. As condições para tal estão reunidas, portanto não será de estranhar que o consiga!
Quase 3 horas de duração que servem como prenda de Natal antecipada para qualquer cinéfilo que se preze. Um verdadeiro must see!
“Everything is backwards now, like out there is the true world and in here is the dream.”
Nota Final: 9 / 10
Im-per-dí-vel. Mark my words on this one.
Inserido no culto dos mestres de terror vivos do MOTELx, este “Re-Animator” de Stuart Gordon é sem dúvida um dos mais conhecidos, populares e aclamados filmes dentro do género do terror.
Gordon apresenta-nos a história de Herbert West (Jeffrey Combs), um brilhante cientista que conseguiu criar em laboratório uma estranha substância capaz de dar vida aos mortos. Após a morte de um professor seu, na Suíça, West vê a oportunidade perfeita para testar a substância. Contudo, a experiência corre mal, e o jovem médico é de seguida transferido para uma faculdade de medicina americana, a Miskatonic University, onde continua os seus estudos.
É lá que conhece Daniel Cain (Bruce Abbott), um promissor médico cujo principal objectivo é salvar vidas. Vendo na substância de West uma hipótese de dar a vida aos seus potenciais pacientes, Dan ajuda-o a ter acesso à morgue do Hospital onde trabalha. Lá são realizadas novas experiências, que correm igualmente mal, e é nessa altura que os seus estudos se vêem expostos e cobiçados por Carl Hill (David Gale), um médico cujo maior desejo é possuir a noiva de Dan, a ingénua Megan (Barbara Crampton).
Conseguirão agora Dan e Herbert evitar que a substância caia nas mãos do vil médico?
Irreverente, inovador, demente e extremamente divertido. Uma masterpiece brilhante a vários níveis, desde o argumento (adaptação livre da obra de H. P. Lovecraft, “Herbert West: Reanimator”), até às interpretações por parte de todos os actores, efeitos especiais (a chegada do Dr. Carl Hill ao escritório, com a sua cabeça a ser transportada pelo seu próprio corpo decepado, por exemplo, está brilhantemente conseguida), montagem, técnicas de filmagem. Nada é deixado ao acaso nesta longa metragem que garantiu uma das melhores audiências na 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Terror.
Filme trash por excelência, ou típicamente série B, se preferirem, “Re-Animator” prima pela apresentação de cenas totalmente explícitas e corrosivas, de um refinado humor negro e de inteligentes diálogos, provando que o terror é também uma categoria digna dos melhores clássicos.
Desta forma, caro leitor, não se pode considerar verdadeiramente fã do género se nunca visualizou esta película, portanto, apresse-se a fazê-lo!
“Who's going to believe a talking head? Get a job in a sideshow.”
Nota Final: 9 / 10
Como reescrever a história da Segunda Guerra Mundial? Embora seja uma pergunta algo estranha e complicada, o incontornável Quentin Tarantino responde com uma simplicidade incrível, bem ao seu jeito violento com um toque delicioso de comédia. Mas vamos à história.
Inglourious Basterds divide-se praticamente em duas histórias que na verdade nunca se chegam cruzar directamente. De um lado temos a história de Lt. Aldo Raine (Brad Pitt) que lidera os Basterds, um grupo de homens com o objectivo de matar o máximo de alemães que conseguir, e com o objectivo de o fazer em terrenos franceses. A segunda história fala de Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), uma judia que consegue em jovem fugir à perseguição de Col. Hans Landa (Christoph Waltz) que tem a reputação de nenhum judeu lhe fugir.
Tarantino um dos realizadores mais irreverentes da actualidade, volta à ribalta depois dos êxitos de Pulp Fiction e Kill Bill, e com toda a justiça diga-se de passagem. Sacanas Sem Lei (como é chamado aqui para as nossas bandas) é um filme inteligentemente realizado, com diálogos de qualidade elevada (destaque para a cena no restaurante entre Mélanie Laurent e Christoph Waltz), cenas de violência extrema com um cariz quase humorístico bem ao estilo de Tarantino e uma história algo alterada mas que mais de metade do planeta gostaria que fosse verídica.
Em aspectos técnicos nada a apontar. Com uma banda sonora perfeita a acompanhar todas as cenas, os efeitos de imagem não ficam atrás e nem podiam pois Tarantino provavelmente não deixava.
Quanto ao elenco o destaque vai claro para Brad Pitt, que embora merece-se mais tempo de antena, as cenas em que participa são algo de delicioso (destaque para Pitt a falar italiano!). Mélanie Laurent embora fosse uma total desconhecida para mim, a verdade é que tem um desempenho muito bom, principalmente nas cenas em que contracena com Christoph Waltz.
Eu estava à espera de um bom filme, cheio de sangue e violência, mas a verdade é que até nisso Tarantino me surpeendeu trazendo até nós um filme mais maduro que o habitual, bem ao nível da sua obra-prima Pulp Fiction. Talvez haja aqui material para Óscares. Esperemos para ver.
"Each and every man under my command owes me one hundred Nazi scalps... and I want my scalps!"
Nota Final: 9 / 10
Baseado no livro homónimo de Neil Gaiman (o mesmo criador de “Stardust"), eis que Henry Selick, o realizador responsável pelo fantástico “The Nightmare Before Christmas”, nos faz chegar “Coraline”, uma menina de 11 anos que acaba de se mudar com os pais para a cidade de Oregon, para uma mansão com mais de 100 anos chamada “Palácio Cor-de-Rosa”.
Apesar do local ser apto a explorações, de conhecer um estranho rapazinho da sua idade, e de os restantes inquilinos da mansão serem algo caricatos (as artistas Spink e Forcible, e o Sr. Bobinsky), Coraline (Dakota Fanning) depressa se aborrece. Os pais estão cheios de trabalho e não dispensam muita atenção à filha, sugerindo a esta que explore a casa. E é durante a sua incursão que Coraline dá de caras com uma estranha porta que serve de passagem para um mundo alternativo onde a sua vida é em tudo mais alegre. Ou pelo menos, é o que parece...
Conseguindo abranger um público mais vasto, “Coraline e a Porta Secreta” pode em alguns momentos chegar a ser desconfortável para as crianças. Não digo que não seja direccionado para elas, pelo contrário, mas alguns segmentos, nomeadamente o final, vai um pouco mais além do habitual em matéria de “susto”. Ainda assim, é inegável o facto de estarmos perante uma boa aposta dentro do género.
Com animadas e coloridas sequências, como o florescer do jardim do outro mundo, por exemplo, e pelos próprios personagens, cuidadosamente criados pelo processo de stop motion (uma modalidade de animação em que são utilizados modelos reais, a partir dos quais são necessárias 24 frames para cada segundo de filme, sendo que os modelos são fotografados frame a frame), Selick brinda-nos com uma película criativa, inteligente e visualmente irrepreensível que nos transmite a ideia de que, por vezes, aquilo que desejamos pode não ser o melhor para nós. E que se soubermos esperar, se tivermos paciência, os bons momentos chegam para ficar. Selick não se opõe ao sonho, apenas enaltece uma realidade de acordo com o que temos. E fá-lo através de uma personagem que, embora criança, apresenta já uma personalidade vincada e que não nos deixa indiferentes.
Devo ainda parabenizar a dobragem portuguesa, em especial Nuno Lopes, que dá voz ao curioso Mr. Bobinsky, e a Ana Bola e Maria Rueff que nos deliciam com as divertidas Miss Spink e Miss Forcible.
Com tamanha qualidade, não se admire pois o espectador de ver atribuída a “Coraline” uma nomeação a melhor filme de animação na próxima cerimónia dos Óscares. É sobejamente merecida!
“You probably think this world is a dream come true... but you're wrong.”
Nota Final: 8.5 / 10
Com uma premissa bastante interessante (desde já digo que nunca sequer tinha ouvido falar da banda desenhada Watchmen) e diferente dos normais filmes de ‘super-heróis’, Watchmen começa com o assassinato do The Comedian (Jeffrey Dean Morgan) no seu próprio apartamento. Rorschach (Jackie Earle Haley) tenta provar que este foi assassinado e provar que alguém anda a querer assassinar todos os antigos membros da Watchmen.
Zack Snyder (realizador de 300) fez um óptimo trabalho ao condensar a história de Watchmen num filme três horas, pois se tudo fosse contado ao pormenor, cinco horas não chegariam. Watchmen consegue transmitir-nos uma ideia quase filosófica do mundo em que vivemos e do que este seria se vivêssemos lado a lado com super-heróis. Uma frase citação popular no mundo de Watchmen é “Who Watches The Watchmen?” e é nisso que assenta grande parte da história do filme.
Não sendo um filme de aspecto noir como Sin City e The Spirit, consegue ter o melhor destes filmes com uma edição de imagem absolutamente espectacular e uma banda sonora do melhor que ouvi nos últimos tempos. Apesar de não privilegiar as cenas de acção, consegue mesmo assim ter umas boas sequências de combates. A juntar a isto, os diálogos estão muito bem construídos e claro que quota parte disso se deve ao elenco.
O elenco esteve todo a um grande nível começando por Jackie Earle Haley no papel de Rorschach, que além de uma das personagens mais curiosas, assume também o papel de narrador com a sua voz ‘negra’ e rouca. Jeffrey Dean Morgan no papel de The Comedian apresentou a qualidade que já lhe conhecemos de outras fitas e séries de televisão. Patrick Wilson tem também um bom desempenho no papel de Nite Owl II. O restante elenco (ainda longo) tem também um bom desempenho.
Watchmen não é um blockbuster, por isso se está com vontade de um filme de acção com mortes e tiros pelo ar, este filme não será a melhor opção. Agora se quer ver um filme fora do normal, com uma boa e enorme história, e ainda assistir a um pouco de acção, então Watchmen é o filme para si.
"I heard a joke once: Man goes to doctor. Says he's depressed. Says life is harsh and cruel. Says he feels all alone in a threatening world. Doctor says, "Treatment is simple. The great clown Pagliacci is in town tonight. Go see him. That should pick you up." Man bursts into tears. Says, "But doctor... I am Pagliacci." Good joke. Everybody laugh. Roll on snare drum. Curtains."
Nota Final: 9 / 10
J. J. Abrams, o conhecido produtor da série “Lost”, já por diversas vezes deu mostras da sua qualidade enquanto realizador e produtor cinematográfico. A prová-lo estão as vertiginosas sequências de acção de “Mission Impossible III” e a excelente capacidade argumentativa de “Cloverfield”, por exemplo.
E agora, Abrams brinda-nos com esta prequela, homónima, a “Star Trek”, a série que conquistou milhares de fãs por todo o mundo desde os anos 60, que conta já com 10 filmes (agora 11 com esta mega produção dos estúdios da Paramount), e que vê assim narrada a história do primeiro contacto dos vários membros da tripulação da nave USS Enterprise.
Com o intuito de captar novos fãs para a saga da Frota Espacial, o filme revela-se como uma excelente prequela na medida em que joga, não só com um experiente, e competente, leque de actores, como também com uma direcção e efeitos especiais que não deixam créditos por mãos alheias, conseguindo dar uma nova alma a todo um universo que se via “estagnado” desde à uns bons anos para cá.
A cena inicial é prova disso mesmo! As sequências de acção estão muitíssimo bem conduzidas, e a sua exímia edição sonora contribui exponencialmente para uma maior absorção dos sentidos do espectador para a fita que se lhe apresenta.
Quanto aos personagens, Spock (Zachary Quinto) foi, pelo menos para mim, aquele que mais se destacou. Quinto tem uma prestação isenta de erros, e o claro à vontade que demonstra no seu desempenho não deixa ninguém indiferente. O seu conflito interior, em “optar” pelo seu lado Vulcano, mais baseado na lógica, ou pelo seu lado Humano, mais emocional, (Spock é filho de um Vulcano, e de uma Humana, interpretada no filme pela actriz Winona Ryder) é personificado exemplarmente pelo actor, e as suas expressões faciais transmitem na perfeição todas as dúvidas que o assolam.
De mencionar ainda Chris Pine enquanto o Capitão James Kirk, que não se deixou somente ficar pelas semelhanças físicas e conseguiu construir um personagem com características únicas que, embora lhe sejam reconhecidas, apresentam-se bastante mais humanizadas. O vilão romulano Nero (Eric Bana) será talvez a personagem que menos contribui para o brilhantismo da fita o que, na história, acaba por ser um mal menor dado que a base do filme visa focar essencialmente o estabelecer das relações entre as várias personagens que compõe a famosa tripulação.
A título de curiosidade, há que mencionar a participação do saudoso Spock da série de TV, o actor Leonard Nimoy.
“Star Trek” revela-se assim um blockbuster que, mais que uma aposta ganha, é uma pelicula digna de registo e cuja visualização se revela imperativa, por Trekkers, e não só!
“Live long, and Prosper.”
Nota Final: 9 / 10
Baseado na vida de Ian Curtis (Sam Riley), vocalista e guitarrista ocasional da banda Joy Divison, que revolucionou o panorama musical no Reino Unido nos finais dos anos 70, “Control”, inteiramente a preto e branco, leva-nos numa viagem intemporal pelos sons que marcaram uma geração.
Com grandes interpretações, especialmente dos protagonistas Sam Riley e Samantha Morton, que interpreta Deborah, a mulher de Ian, esta biopic permite-nos acompanhar a vida do carismático vocalista que perdeu a vida aos 23 anos, no dia 18 de Maio de 1980, vítima de suicídio por enforcamento, desde a sua problemática adolescência até à entrada a pulso no mundo da música, onde atingiu a fama... e se perdeu cedo demais.
Rica pela fotografia sublime (que capta na perfeição o ambiente daquela Inglaterra mais alternativa, ou não fosse o também realizador, um fotógrafo profissional), bons planos de corte, excelente banda sonora (não só nas cenas de actuação da banda, mas também pelas músicas a cargo de nomes como New Order, Sex Pistols, entre outros), intensidade dramática credível (um bom exemplo são as cenas relativas aos ataques de epilepsia de Ian, que estão muitíssimo bem conseguidas) e excelente colecção de factos, informações e organização argumentativa, esta fita do holandês Anton Corbijn, coloca-nos em contacto com diversos aspectos da vida de Ian.
As suas dúvidas existenciais, as letras carregadas de sentimentos de destruição e morte, o seu trabalho enquanto funcionário público (com bastante sucesso diga-se) em Machester e Macclesfield, a relação com a mulher Deborah Curtis e o caso extra conjugal com a jornalista Annik Honoré (Alexandra Maria Lara)... todos estes aspectos que fizeram da sua vida algo singular acabam por tornar esta película num produto único e sincero.
Um must see brilhantemente produzido que se revela imperdível para fãs do músico, e não só!
“When you look at your life, in a strange new room, maybe drowning soon, is this the start of it all?”
Nota Final: 8.5 / 10
Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um velho reformado com mau feitio e como se isso não bastasse é veterano da Guerra da Coreia. A história começa quando a sua mulher morre e este começa a perceber que a sua vida é um pouco vazia. Não se dando bem com os seus filhos, estes só o querem para benefício próprio e após a morte da mãe, até a casa tentam arrebatar do pai. Porém a sua vida muda quando um rapaz asiático chamado Thao (Bee Vang) tenta roubar o seu Gran Torino de 1972 como um teste para entrar num gang. Falhado o teste, Thao tenta afastar-se do seu primo (o ‘patrão’ do gang), mas este quer Thao à força.
Uma noite, Walt defende Thao de ser levado à força pelo gang e fica conhecido como uma espécie de herói de bairro. Vivendo numa família tradicional, Thao é obrigado a trabalhar para Walt de forma a se redimir da tentativa de roubo do Torino. Embora ao princípio Walt recuse a ideia (além das qualidades que enumerei no princípio, Walt era ainda um grande racista) por não se querer envolver com aquela gente, este acaba por ceder, e ambos iniciam uma bonita e estranha amizade. Walt acaba por perceber, com todas as boas acções da família de Thao, que tem mais em comum com estes do que com a sua própria família.
Clint Eastwood na minha opinião está melhor e mais vivo que nunca. Depois de um Changeling tão aclamado pela critica Eastwood realiza e contracena neste belíssimo Gran Torino. Este filme é um hino ao cinema clássico principalmente por causa dos toques de Eastwood: a imagem e a fotografia cuidadosamente feitas mostram um filme em que todas as cenas têm uma beleza inconfundível e existe um tempo especifico para o espectador apreciar o que está a ver.
Em relação a desempenhos no ‘cast’, além dos dois anfitriões de Gran Torino, não existe mais nada a destacar pois a grande maioria deste era amador e fazia a sua primeira aparição no grande ecrã. Clint Eastwood não nos desilude tendo um desempenho como nos habituou ao longo da sua carreira. Com diálogos absolutamente fantásticos que tanto nos podem fazer rir ou deixar com a lágrima no canto do olho, Eastwood faz aqui a sua última aparição como actor no grande ecrã. Bee Vang embora não tenha um desempenho de encher o olho, consegue não ficar extremamente diminuído perante a grandeza do actor com quem fazia dupla.
Gran Torino é um filme que aborda questões étnicas e todas as questões que rondam a vida humana acerca do assunto. Além disso, este filme é sobre a afirmação de uma pessoa no mundo e como por vezes o papel de alguém como Walt nos transforma e nos dá um novo rumo na vida e, quem sabe, uma nova forma de pensar sobre o papel da morte nesta.
Não posso terminar sem referir ainda o génio de Eastwood ao ser a voz da música com que termina o filme, que no mínimo deveria ter sido nomeada pela Academia dos Oscares para Melhor Banda Sonora Original. Aliás gostava de perceber como este filme não obteve nem uma nomeação pela Academia. Clint Eastwood irá deixar saudades no grande ecrã, mas com certeza ira-nos continuar a premiar com grandes obras numa cadeira atrás das câmaras.
“The thing that haunts a man the most is what he isn’t orderer to do.”
Nota Final: 9/10
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